quarta-feira, 15 de outubro de 2014

PADRE LARGA A BATINA POR CAUSA DE UMA MULHER E DEIXA UMA CARTA QUE EXPRESSA UM SENTIMENTO DE AMOR EXTRAORDINÁRIO

 
O que se comenta na cidade São João do Rio do Peixe, sertão da Paraíba, é a decisão do padre Francisco Batista de Sousa Neto.
Nesta terça-feira (14/10) ele abandonou a vida sacerdotal e assumiu seu amor por uma mulher.
O padre deixou uma carta aberta.

Uma decisão, que segundo ele, não é de agora.
“O que fiz é fruto da coerência, pois não acha correto viver de forma forjada no celibato”.
Francisco também administrava a Paróquia Nossa Senhora do Rosário, do município.
A carta é uma declaração de amor, de respeito e de prudência.
Eis a carta na íntegra:

"Venho, através desta carta, expressar os meus sentimentos diante da minha escolha.
De início, oportuno anotar, que não interpretem estas palavras como justificativa, pois não preciso apresentá-la, até porque a escolha é individual, pessoal e assim como fiz livremente para ser padre posso também livremente deixar.
Deve-se entender que cada um tem um limite de ação, que existe o livre arbítrio.
Neste sentido, desarmem-se de suas concepções religiosas preconceituosas, pois a vida é feita de escolhas.
Após um longo processo solitário de discernimento, decidi abandonar o ministério presbiteral e a condição de administrador da Paróquia Nossa Senhora do Rosário em São João do Rio do Peixe-PB.
Decidi viver um grande amor.
Um amor criado por Deus vivenciado entre um homem e uma mulher. Um amor divinamente humano.
Espero que compreendam que não estou fazendo uma troca, pois o amor a Deus e ao seu Reino sempre estará em primeiro lugar na minha vida e até porque o amor é onde Deus está, é o que Deus é e não é possível ir contra isto.
Apenas quero ser coerente e verdadeiro.
Não vai de encontro aos meus princípios viver de forma forjada a disciplina do celibato a qual prometi no dia da minha ordenação viver.
Não posso enganar a mim mesmo e ao Povo de Deus.
É inconteste que não foi fácil o caminho de discernimento e tenho consciência que nem será o de recomeçar, mas a vida é feita de escolhas e as escolhas fazem parte da vida daqueles que são livres, como Deus nos criou.
Para ser fiel a Deus e a si mesmo é preciso mudar.
As decisões, são sempre difíceis de serem tomadas, corremos o risco de sermos crucificados, apedrejados, mas no fim, a misericórdia divina supera toda atitude de preconceito e de não amor.
O certo é que não podemos viver sempre em indecisões atrasando o futuro que nos espera e, mais tarde, arrependidos de não termos feito o que deveríamos.
Viver requer coragem. E tem coisas que pulsam no coração em que nem mesmo a razão é capaz de explicar.
O maior dom do ser humano é a liberdade para fazer escolhas. Viver é uma sequência de escolhas certas ou erradas com consequências positivas ou negativas para o envolvido e os demais.
Não há dúvida de que as escolhas são o principal fator determinante da vida.
Confesso que não estava prevista no meu projeto de vida esta mudança.
Desde a tenra idade cultivei o sonho de ser padre, em poder servir ao Povo de Deus, e assim me dediquei a este legado com um longo tempo de preparação.
Não me arrependo se quer uma fração de segundo, porque vivi intensamente a minha escolha.
Nos quase seis anos de ordenação presbiteral, sempre fui feliz, cada momento foi vivido com amor exerci a minha missão com muita verdade e comprometimento.
Porém, nos últimos anos despertou em meu ser a necessidade de concretizar algo de muito valor que já tinha admiração na fase infanto-juvenil: a vida conjugal.
Isso foi despertado em mim e confesso que não foram as poucas vezes que tentei focar minha vida naquilo que eu havia escolhido primeiro, mas chegou um tempo em que a minha humanidade não suportava mais.
Alguns podem até pensar que foi uma crise vocacional, sou sincero e convicto ao dizer que não, porque se fosse para continuar sendo padre e ao mesmo tempo constituir uma família pra mim nada mudaria.
Compreendo que o celibato é uma disciplina da Igreja e que deve ser observado por aqueles que livremente escolhem esta vocação.
No início do meu ministério até pensei que seria possível viver por toda a vida, mas chegou o momento em que a minha humanidade falou mais forte.
Realmente o celibato é um dom e nem todos são capazes de viver e entender.
Admiro muito aqueles que são capazes de viver.
Acredito que a não vivência do celibato não impede de exercer e nem mácula este ministério.
Contudo, é uma disciplina da Igreja e que deve ser cumprida por aqueles que escolhem livremente vivê-la.
Não sou eu quem vai mudar a disciplina, eu quem devo mudar. Então, me debrucei nesta reflexão, concluindo que não poderia ser incoerente com a minha escolha.
Decidi então recomeçar a minha vida, rompendo com meus sonhos e esperanças e de tantos outros que depositaram em mim.
Que fique claro, que em momento algum nesta nova escolha desejei ou articulei magoar alguém.
Quantas vezes quis dominar o meu coração, mas isso é impossível quando sentimos um amor verdadeiro sem malícias e pretensões.
Peço perdão se alguém sentiu ferido e atingido por mim.
O amor é amor quando existe reciprocidade e isso eu senti. Nada pode contra e ninguém pode resistir ao amor.
É o último grau de evolução, é onde Deus está, é o que Deus é e não é possível ir contra isto.
Com imensa satisfação, continuarei servindo a Igreja, assumindo o meu batismo como discípulo e missionário de Jesus Cristo, e, exercendo o meu sacerdócio batismal, celebrando, agora, uma liturgia doméstica, culto a Deus prestado ao Senhor em casa, oferenda religiosa da vida conjugal, pondo em prática o plano de amor que Deus confiou ao homem e mulher.
Peço oração e compreensão de todos que ao longo da caminhada cruzaram o meu caminho.
Preservarei os mesmos sentimentos e carinho por todos. Agradeço àqueles e àquelas que foram ombro amigo aonde eu descansei, desabafei e por muitas vezes chorei neste meu itinerário de discernimento.
Tomo esta decisão na firme esperança e na sinceridade de coração.
Saibam que não desisti da caminhada, apenas mudei a rota, na certeza de que todas tem o mesmo destino.
Sejamos felizes e que Deus nos abençoe!

Cordialmente,
Francisco Batista de Sousa Neto".

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