segunda-feira, 3 de novembro de 2014

"É PREFERÍVEL UM CULPADO NA RUA, DE QUE UM INOCENTE NA CADEIA", DIZ DELEGADO FRANCISCO DE ASSIS; POLICIAL CIVIL É O ENTREVISTADO DA SEMANA NO RENATODINIZ.COM

(Delegado Francisco de Assis: quase 40 de PC)
O delegado Francisco de Assis Silva, é o entrevistado do quadro "A ENTREVISTA DA SEMANA".
O policial é sertanejo e vai completar 40 de profissão na PC paraibana.
Assis é um dos quatro delegados da Divisão de Homicídios em Campina Grande.
Ele costuma dizer que seu trabalho é dentro da lei e transparente. 
Não apenas diz, ele faz.
Acompanhe a entrevista do homem que quando se aposentar pretende ser o rei da codorna.

O QUE LHE FEZ OPTAR PELA PROFISSÃO DE POLICIAL CIVIL?
Em 1979 eu era professor em Riacho dos Cavalos, no Sertão paraibano.
Um líder da cidade veio até a minha casa e perguntou se eu queria trabalhar “na” delegacia. Antes que eu respondesse minha mãe interferiu e disse que “meu filho não vai trabalhar na polícia, pois polícia só dá coisa ruim. Eu prefiro que ele continue sendo professor”. No momento eu fiquei sem ação, mas disse ao rapaz: eu continuo sendo professor, mas vou passar a frequentar a delegacia para saber o que faz um escrivão. E na delegacia eu vi que não corria muito risco, então eu aceitei. Em 1988 teve a nomeação em “caráter precário” e eu aceitei. Quando foi em 2008, eu já estava ambientado, eu já estava em Campina Grande, fazia o curso de Direito, continuava sendo professor (na escola estadual Antônio Oliveira) e policial escrivão. Então houve o concurso para delegado, eu passei e hoje isto é minha família também.
QUAIS AS DELEGACIAS QUE O SENHOR ATUOU?
Em Campina trabalhei em todas as distritais e ainda em Barra Santa Rosa, Remígio, Areia, além de Esperança. Fique durante 14 anos na delegacia da infância. O jornalista Marcial Lima chegou ate a dizer: acho que quando o delegado Assis chegou à delegacia da infância ainda era “de menor idade”.
COMO É FORA DA DELEGACIA?
Ocupo parte da vida na agricultura, “criação de pequenos animais” e curtir minha duas filhas e minha casa. Minha mãe tem 97 anos,  e tenho três netos. Amo demais.
O SENHOR JÁ ATIROU EM ALGUÉM? TEVE ESSA OPORTUNIDADE?
Tenho muita fé em DEUS e espero que esse dia nunca chegue. Não digo que não tenho inimigos, pois a minha função é complicada, mas nunca se sabe. Sempre faço meu trabalho de maneira transparente. Procuro entender as pessoas. Sou compreensivo e não impulsivo. Procuro compreender as pessoas aflitas, depressivas e pessoas que por uma circunstância da vida (que não têm má índole) cometeram algum crime. Não ajo por impulso. A razão prevalece. Resumindo: são 39 anos e quatro meses de polícia sem atirar em ninguém. Levo meu trabalho com transparência e dentro da lei.
ALGUM CASO EM QUE O SENHOR COMETEU ERRO?
Eu não costumo e nem quero pecar pelo excesso ou pela omissão. Procuro ser cauteloso. Pra ser sincero um caso em que eu tive dificuldade para tomar uma posição foi no que se refere ao homem que foi decapitado e enterrado no quintal de uma casa nas Malvinas (Onde dona Carmita morava com o irmão). A gente pensa que sabe de tudo, mas sempre tem algo que nos surpreende, mas a gente tem que ter o raciocínio rápido: pegar pela palavra ou atitude. Quando foi descoberto o corpo ela disse: que achava difícil o corpo ser identificado, pois não havia cabeça. Num primeiro momento eu achei que ela teve participação no crime, mas em seguida eu a indiciei por ocultação de cadáver. Foi dificílimo, mas é preferível um culpado na rua, de que um inocente preso. Outra coisa: havia pedras bastante pesadas. Ela sozinha não teria condições de removê-las. Tenho cuidado nas minhas decisões. Pra tomar decisões tenho princípios.
QUAL FOI O MOMENTO EM QUE O SENHOR PERCEBEU QUE TINHA “COROADO SUA CARREIRA”?
Na polícia, Renato, eu sempre fui tolerante (em toda minha vida, para ser sincero). Trabalhei com pessoas que muitos colegas diziam: você não consegue trabalhar uma semana com fulano. Trabalhei e dei conta. Fui delegado de Menores durante 14 anos. Não é fácil!!!. Trabalhar numa delegacia e menores é algo extremamente estressante, mas tive cautela em minhas decisões.
QUAL A INVESTIGAÇÃO PERFEITA NA SUA CARREIRA?
Foram várias. Não quero nominar casos. Quero deixar claro que cada caso resolvido é uma conquista para a sociedade. Sou cautelo. Não quero fazer um trabalho e “lá na frente” esse trabalho ser alvo de censura.
O SENHOR JÁ RESPONDEU A ALGUM INQUÉRITO POLICIAL, OU FOI ALVO DA CORREGEDORIA?
Já respondi. Responder, eu respondo a mil, se for o caso. Agora ser penalizado, eu não iria aceitaria, pois os inquéritos que eu já respondi foram movidos por pessoas (eu não ei por qual a razão) antipáticas ao meu trabalho. Teve delegado que saiu da corregedoria que veio apurar inquérito contra mim e o alvo da suposta infração que eu poderia ter cometido se transformou em elogio. Esse delegado ligou para o secretário de segurança e disse: “olhe, não tenho o que apurar. O delegado Assis foi correto”... Então como eu disse: responder eu respondo a mil, mas punição nunca sofri, pois não cometi nenhuma infração na função que exerço.

PELO LONGO TEMPO DE POLÍCIA: O SENHOR AINDA SE ESTARRECE DIANTE DE MUITOS CASOS?
Diante a desumanidade (eu já presenciei muitos casos de monstruosidade). Eu digo a você que o ser humano é perverso. A gente às vezes, por não ser capaz de cometer certos atos, acredita que outros não cometerão. Crianças, por exemplo, assassinadas e estupradas, choca qualquer policial. Não dá pra não sentir arrepio.
NA DELEGACIA DE HOMICÍDIOS O SENHOR ESTÁ A  QUASE CINCO ANOS. COMO O SENHOR ENCARA O TRABALHO QUE É DIVIDIDO COM MAIS TRÊS CABEÇAS (DELEGADOS ANTÔNIO, TATIANA E MAÍRA)
Trabalhamos em conjunto, em grupo e interagimos. Nosso objetivo é tirar das ruas pessoas que ceifam vidas. Sinto-me gratificado em trabalhar na Delegacia de Homicídios. Sinto-me fortalecido pela equipe, pelo grupo.
O DESVIO DE CONDUTA DE COLEGAS DE PROFISSÃO PERTURBA O SENHOR?
Incomoda-me e me sinto triste com isso. Creio que os colegas que prezam pelo nome na instituição também se sentem assim. Mas isso não é “privilégio” da polícia civil. Em todas as instituições acontecem casos.
A polícia muitas vezes é generalizada. As pessoas julgam o todo. Estão enganados. Na polícia prevalece, em sua maioria, a honestidade.
O SENHOR VIVE MAIS DENTRO DA CENTRAL DE POLÍCIA? COMO É ISSO?
Eu posso dizer a você Renato, que “eu moro na delegacia e passeio em casa”. Às vezes, por exemplo, nas folgas, eu ainda venho para a Central nos finais de semana para dar conta de relatórios que por ventura estejam atrasados.
E A IMPRENSA: É ESSENCIAL NO TRABALHO POLICIAL?
Gosto da imprensa e digo isso não pra fazer média. Quando faz um trabalho relevante para a sociedade todos saem ganhando. Independente da informação, ela tem que fazer o seu papel nobre.
COMO O SENHOR ANALISA A POSTURA DA POLÍCIA MILITAR NO OPERACIONAL?
Olha é preciso entender que esse trabalho não é fácil. Se alguém é vítima de um assalto, por exemplo, e diz que o acusado é o sujeito “tal”, certamente que a polícia militar baseada naquele testemunho, vai trazer o acusado para a polícia judiciária (civil). Cabe ao policial civil, baseado nos relatos e provas, dar o seu parecer. Para isso é preciso cautela. Como eu disse: é preferível um culpado na rua de que um inocente na cadeia.
A MUDANÇA NA POLÍCIA CIVIL EM CAMPINA GRANDE FOI SAIR DE UM PRÉDIO VELHO PARA UM NOVO PRÉDIO?
Não tivemos mudanças apenas na estrutura. Foi uma mudança generalizada. Vou te dar um exemplo: escrivães e agentes têm nível superior. Tem gente com pós-graduação. Temos agentes que são instrutores na Academia de Polícia. Quando eu iniciei, não tinha isso. Sou do tempo da figura do delegado comissionado. A polícia hoje vive um novo tempo. Temos pessoas preparadas. A maioria dos policiais preserva pelo nome da instituição.
"BANDIDO BOM É BANDIDO MORTO”?
Olhe: tem crimes que a gente se emociona. Crianças estupradas e mortas fazem a gente se emocionar. Recentemente este caso de Queimadas (estupro coletivo) foi de uma barbárie sem precedentes. A gente fica estarrecido, mas eu acredito na recuperação. A prisão, em muitos casos, muda a pessoa. EU SOU PELA VIDA, EU DEFENDO A VIDA. Às vezes chego a um local de crime e escuto alguém dizer com o vítima fatal: isto é uma “alma sebosa”. Não existe alma sebosa. Acho que existem e existiram pessoas que não tiveram e não têm a sorte de ser educadas.
O QUE O SENHOR VAI FAZER QUANDO DEIXAR A POLÍCIA CIVIL?
Eu tenho um sítio próximo a Campina Grande. Tem uma área grande lá.Vou criar codorna. Vou ser o “rei da codorna” em Campina e demais cidades (risos).

Um comentário:

  1. parabens pelo brilhante trabalho prestado a sociedade campinense

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