sábado, 14 de fevereiro de 2015

O TIRO QUE O CAPITÃO DEU NO SOLDADO EM JOÃO PESSOA

VEJA O VÍDEO do PM ferido no hospital

Imagens: Natan Gouveia (Notícias da PB/npb)

PROBLEMAS DE BASTIDORES SOBRE O TIRO DE UM CAPITÃO NUM SOLDADO EM JOÃO PESSOA
(Saulo Nunes/paraibaemqap)

O atrito que resultou em tiro e sangue entre um capitão da Polícia Militar e um soldado da mesma corporação em João Pessoa (PB), na madrugada desta quinta-feira, 12 de fevereiro, respinga em problemas internos que vão muito além de uma ocorrência “mal contada”.
Bomba das grandes no gabinete do Comando-Geral da PM.
Vejamos as duas versões principais do caso.
A primeira é de que o soldado Davi Cristiano estaria numa moto, acompanhado de uma mulher, e a placa do veículo encoberta por um adesivo.
Ao passar por uma blitz, teria “se exaltado” diante do capitão Leão.
No bate-boca, o soldado teria tentado sacar sua pistola.
O capitão, então, efetuou um disparo na perna de Davi.
O praça foi contido, algemado e conduzido até uma delegacia.
A outra versão confirma que a placa da moto estava encoberta, mas seria apenas para o militar “se livrar de multas”.
Quanto à denúncia de que ele teria tentado reagir com sua arma, o relato não seria verdadeiro, conforme a versão que o defende.
O soldado teria sido agredido com coronhadas na cabeça, além do tiro que sofreu na perna.
NOS ‘BASTIDORES’
Engana-se quem pensa que o problema ‘acabou na delegacia’.
O modelo ‘militar’ das PMs no Brasil tem como fator negativo a histórica divisão entre “oficiais x praças”, diferenças hierárquicas que vez por outra potencializam discussões as mais calorosas, culminando em agressões e até mortes. 
É óbvio que hierarquia e disciplina são requisitos existentes em quase todas as instituições, inclusive na iniciativa privada.
No entanto, no militarismo elas ganharam contornos, por vezes, exacerbados, a ponto de dividir a tropa de uma forma que somente uma série de reformulações profundas será capaz de amenizar esses atritos.
Não estamos afirmando que o caso específico é necessariamente fruto do fosso que divide oficiais e praças da PM no Brasil.
Mas não nos enganemos: nos bastidores da PMPB, o episódio já nutre discussões que remetem às diferenças abissais entre as duas correntes que compõem a corporação. E pipocam questionamentos do tipo:
- E se fosse o soldado que tivesse atirado no oficial?
- Um soldado sozinho teria mesmo coragem de atirar em um oficial numa blitz cheia de policiais?
- Se uma pessoa sacar uma pistola para você é na perna dessa pessoa onde você vai atirar para se defender? 
- Soldados são julgados por oficiais; e os oficiais são julgados por eles próprios. Tem como haver justiça aí?
- Na guarnição do capitão também havia praças. Como eles irão se posicionar quando forem ouvidos, caso o oficial tenha realmente cometido excessos?
Longe de já querermos ‘condenar’ o capitão no caso em tela. Essa não é, verdadeiramente, a nossa intenção.
Porém, o modelo “Militar” que o Brasil herdou e mantém em suas PMs reúne diversos fatores que já complicam a vida de Davi.
Antes de qualquer julgamento.
(divulgado no paraibaemqap em12/02)