sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

ESTÁDIOS DA COPA DO MUNDO PEDEM SOCORRO: MARACANÃ TEM FUTURO INCERTO; EXCEÇÃO, MINEIRÃO TEM CRESCIMENTO DE 35%

(Maracanã, Rio)
O ESTADÃO
Gonçalo Junior
Das doze arenas da Copa do Mundo, três se desdobram em estratégias para diminuir o prejuízo mensal com o baixo número de partidas nos últimos dois anos.
(Arena da Amazônia, Manaus)
No Campeonato Amazonense, a Arena da Amazônia não cobra aluguel dos clubes que jogam lá.
A diária dos funcionários também fica “na faixa”.
Desde o ano passado, o Mané Garrincha (Distrito Federal), que só tem três jogos confirmados do Candangão até agora, passou a alojar dois órgãos da administração estadual, economizando aluguel do orçamento do governo.
Por mês, o saldo negativo é de R$ 500 mil.
(Mané Garrincha, Brasília)
No Mato Grosso, os gestores da Arena Pantanal defendem uma ação federal, com a participação da CBF e do Governo, para salvar os estádios da Copa que estão no vermelho.
O apelo dos mato-grossenses se justifica.
E o pedido de socorro é geral.
Com custos médios de R$ 700 mil por mês, a arena não consegue cobrir nem 10% disso, ou seja, R$ 70 mil.
Os números são da Secretaria Adjunta de Esportes e Lazer.
O estádio é bancado pelo governo estadual.
Até o momento, estão confirmados 20 jogos da primeira fase do campeonato local, o que não significa lá grande coisa.
Os clubes pagam pela utilização da Arena Pantanal uma taxa de 8% da renda bruta.
A final do torneio de 2016, por exemplo, teve uma renda pífia, de R$ 167 mil.
Com poucos jogos, shows esporádicos e público quase sempre baixo, o Mané Garrincha dá prejuízo e virou até sede de secretarias distritais
Com poucos jogos, shows esporádicos e público quase sempre baixo, o Mané Garrincha dá prejuízo e virou até sede de secretarias distritais.
Para resolver essa situação de penúria, o secretário Leonardo Oliveira vê duas saídas emergenciais: concessão à iniciativa privada e uma ação federal.
A CBF e o governo federal poderiam desenvolver uma ação conjunta, a nível nacional, para fomentar o esporte nas arenas da Copa que possuem poucas partidas”, defende o secretário.
(Arena Pernamcuco, São Lourenço da Mata)
Em Brasília, Jaime Recena, secretário de Turismo do Distrito Federal, rejeita o rótulo de elefante branco para o Mané Garrincha.
O nosso estádio é um elefante, mas não é branco, não. Ele está corado”, defende.
Para sustentar a afirmação, Recena abre as contas do estádio mais caro do Mundial de 2014.
O custo de manutenção mensal é parecido com o do colega mato-grossense (R$ 700 mil); a arrecadação gira em torno de R$ 200 mil.
No ano passado, o estádio recebeu 28 partidas de futebol, dez da Olimpíada.
O show do grupo norte-americano Guns N' Roses ajudou a diminuir o prejuízo – o aluguel para grandes eventos oscila entre R$ 150 mil e R$ 500 mil.
Para compensar o rombo, a arena se tornou o endereço de três órgãos da administração estadual.
Nos números do secretário, a economia com aluguel alcançou R$ 10 milhões entre junho de 2015 e junho de 2016, quando a arena foi entregue para os Jogos Olímpicos.
(Castelão, Fortaleza)
Hoje, estão no estádio a Secretaria de Cidades e um departamento da Terracap (Agência de Desenvolvimento do Distrito Federal).
Para 2017, só estão confirmados três jogos no estádio do campeonato estadual.
Os clubes reclamam que é caro jogar ali.
De acordo com a negociação, o time tem de pagar entre 8% e 13% da bilheteria.
A média de público nos nossos jogos é de duas, três mil pessoas. Se a gente jogar lá, teremos prejuízo”, afirma Paulo Henrique Lorenzo, gerente de futebol do Brasiliense.
(Arena das Dunas, Natal)
As arenas ainda enfrentam um problema adicional visível pela tevê.
Quando as partidas são realizadas, elas ficam vazias, pois são muito grandes para a realidade local.
No ano passado, 70% dos lugares das arenas da Copa ficaram desocupados.
Sete dos doze estádios tiveram ocupação menor que 30%.
(Arena Fonte Nova, Salvador)
SOLUÇÃO
Para contornar o problema do valor do aluguel, os administradores da Arena da Amazônia não cobram a taxa dos clubes locais.
Para times de outros estados, ela gira em torno de 7 a % 10%.
A final de 2016 atraiu 1.574 pessoas que deixaram na bilheteria R$ 17.580,00.
 “A renda da bilheteria vai para os clubes. É uma forma de incentivar o futebol local”, diz o secretário estadual de Juventude, Esporte e Lazer, Fabrício Lima.
A iniciativa também tenta minimizar o saldo negativo.
Em 2016, a despesa anual foi de R$ 6,5 milhões.
A receita, por sua vez, alcançou R$ 1,1 milhão.
Nosso objetivo é encerrar 2017 no 0 a 0”, diz o secretário.
Em todos os estados, uma das soluções apontadas foi a concessão à iniciativa privada.
Em Brasília, uma chamada pública atraiu dois grupos interessados.
No Mato Grosso, a secretaria acha difícil encontrar um parceiro. Em quatro locais, empresas que gerem os estádios querem deixar o negócio.
Isso aconteceu em Pernambuco – a administração voltou para o governo do estado.
Pode acontecer no Maracanã, Arena das Dunas (RN) e na Fonte Nova.
ARENA PANTANAL
(Arena Pantanal, cuiabá)
O governo de Mato Grosso vai transformar a Arena Pantanal em estádio-escola.
A decisão acontece três meses depois de publicação de decreto que definiu as regras de gestão e utilização das áreas externas e internas do espaço.
Na ‘Arena da Educação’, da Secretaria de Estado de Educação, Esporte e Lazer, os estudantes terão, além das disciplinas regulares, musculação, natação e treinos ligados ao esporte de preferência do aluno.
Inicialmente, a unidade atenderá o 3º Ciclo do Ensino Fundamental (7º, 8º e 9º anos) e três turmas do 1º ano do Ensino Médio, com foco em esporte de alto rendimento.
Segundo a assessoria da Seduc/MT, a arena possui os equipamentos necessários para fazer uma escola de tempo integral, vocacionada ao esporte.
No local, há 75 salas disponíveis, que serão transformadas, gradativamente, em salas de aula.
O espaço que sediou quatro jogos da Copa tem sido palco de brigas judiciais entre o Estado e as empresas Mendes Junior.
A empresa diz que tem dinheiro a receber.
O governo alega que já pagou a obra.
(Colaborou Fátima Lessa)
PRINCIPAL ESTÁDIO DO PAÍS, MARACANÃ TEM FUTURO INCERTO
(Maracanã, Rio)
Palco da abertura e encerramento da Olimpíada e dos principais jogos do futebol carioca, o Maracanã está longe de ser um elefante branco, problema comum das outras arenas da Copa, mas seu futuro está indefinido.
O principal estádio do Brasil está sem condições de uso.
O problema é uma briga judicial entre a concessionária e o governo do Estado do Rio.
Em março do ano passado, o consórcio Maracanã S.A, que administra o estádio e é liderado pela Odebrecht, cedeu a arena ao Comitê Organizador Rio 2016 para a Olimpíada e a Paralimpíada. Após as competições, o consórcio não aceitou o estádio de volta, alegando que ele não estava na mesma condição anterior.
No entanto, a Justiça ordenou que o consórcio reassumisse o Maracanã.
A empresa, por sua vez, recorreu da decisão.
No último capítulo da briga, na última sexta-feira, o Tribunal de Justiça do Rio negou recurso e manteve a decisão de 1.ª instância que obriga a empresa a reassumir a gestão do estádio e do Maracanãzinho.
(Arena Corinthians, Itaquera, São Paulo)
Assim, a concessionária deve manter a administração, sob pena de multa diária de R$ 200 mil.
Por causa da disputa, o complexo está fechado.
Turistas não conseguem visitá-lo, e o gramado foi abandonado. Funcionários da empresa Sunset, responsável pela segurança do estádio, registraram, em boletim de ocorrência no início do mês de janeiro, o furto de duas televisões de LCD de 46 polegadas, de um pino de mangueira de incêndio em cobre e de dois bustos, também de cobre.
Um deles, do jornalista Mário Filho, que dá nome ao Maracanã.
O estádio teve sua energia cortada, por falta de pagamento.
A concessionária garantiu a quitação do débito, de R$ 1 milhão. O consórcio também comunicou que já restabeleceu o contrato com a empresa responsável pela segurança e solicitou aumento do efetivo tanto para o estádio do Maracanã como para o ginásio do Maracanãzinho.
O mesmo procedimento teria sido adotado com outros prestadores, incluindo empresas de manutenção do gramado e limpeza.
EXCEÇÃO, MINEIRÃO TEM CRESCIMENTO DE 35%
(Mineirão, Belo Horizonte)
O Mineirão é um dos poucos exemplos de sucesso entre as arenas da Copa.
Em 2016, o estádio alcançou o crescimento de 35% de exploração comercial com jogos de futebol e grandes shows.
Foram 43 partidas com arrecadação de R$ 18 milhões apenas em bilheteria.
Só o clássico das Américas, partida das Eliminatórias entre Brasil e Argentina, rendeu R$ 13 milhões.
Mais de 53 mil pessoas acompanharam o massacre da seleção brasileira sobre a argentina, por 3 a 0.
Foi o maior público da arena em 2016.
Entre os grandes shows, a arena recebeu a apresentação do grupo britânico Iron Maiden e da banda californiana Maroon 5.
A arena também assinou contrato com a cervejaria Brahma, que se tornou a marca oficial do estádio.
Em alguns casos, shows e jogos de futebol acontecem simultaneamente.
No camarote do estádio, os torcedores podem acompanhar espetáculos musicais nos intervalos e no final das partidas.
A partida inicial do Campeonato Mineiro, entre Vila Nova e Cruzeiro, também terá atrações musicais.
Com um planejamento comercial para 25 anos, o estádio recebe desde aniversários de crianças até shows para 50 mil pessoas.
(Arena da Baixada, Curitiba)
O organizador do evento tem o custo médio de R$ 10 por pessoa. No futebol, não há aluguel do estádio, mas apenas cobrança dos custos operacionais.
No caso do Cruzeiro e no do América MG, por exemplo, há um contrato de fidelidade.
(Beira-Rio, Porto Alegra)
Para o Atlético, a negociação é feita jogo a jogo.
O Mineirão firmou uma parceria inédita com o Beira-Rio.
Os clientes de camarotes e cadeiras cativas do Mineirão e das áreas vips do Beira-Rio tiveram assentos garantidos nos dois estádios na semifinal da Copa do Brasil.

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