O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, neste sábado (10/05), que nenhum aposentado ou pensionista será prejudicado em razão dos descontos não autorizados de mensalidades associativas na folha de pagamento do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Ele afirmou que o governo não quer fazer
“um show de pirotecnia” com o caso, mas “apurar com muita seriedade” para
encontrar os culpados.
“Você poderia ter feito uma
pirotecnia e não ter apurado. Como a gente quer apurar com muita seriedade,
tanto a CGU [Controladoria-Geral da União] como a Polícia Federal foram a fundo
na exploração para chegar no coração da quadrilha. Se tivesse feito um carnaval
há um ano atrás, possivelmente teria parado no carnaval, como acontece em todas
as denúncias”, disse sobre críticas à demora nas investigações.
“A CGU e a nossa Polícia Federal,
num processo de investigação com muita inteligência, sem nenhum alarde,
conseguiram desmontar uma quadrilha que estava montada desde 2019 nesse país.
Tem entidades sérias no meio que certamente não cometeram nenhum crime e tem
entidades que foram criadas para cometer crime”, acrescentou,
reforçando que o esquema funcionava desde 2019.
O presidente lembrou que os recursos
pertencem aos aposentados e pensionistas e que o governo atuará para repatriar
o dinheiro e devolver a quem de direito.
“Devolver ou não vai depender de
você constatar a quantidade de pessoas que foi enganada, a quantidade de
pessoas que teve o seu nome numa lista sem que ele tivesse assinado. Porque
aqueles que assinaram, autorizaram [os descontos das mensalidades]”,
explicou.
“O que eu acho mais grave, não foi
dinheiro dos cofres públicos. Esse dinheiro estava no bolso do aposentado
quando alguém pediu para descontar do salário dele. Então, o crime foi um
assalto aos aposentados e pensionistas deste país. Eles não foram no cofre do
INSS, eles foram no bolso do povo”, afirmou o presidente.
Lula falou com a imprensa em Moscou, na
Rússia, onde esteve em visita de Estado no contexto das celebrações dos 80 anos
da vitória da União Soviética sobre a Alemanha nazista na Segunda Guerra
Mundial.
Após a entrevista, ele embarcou para
Pequim, na China, onde participa da cúpula entre o gigante asiático e países da
Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), nos dias 12 e 13
de maio, além de fazer uma visita de Estado.
RESSARCIMENTO
Nesta quinta-feira (08), o presidente do
INSS, Gilberto Waller Júnior, anunciou que os aposentados e pensionistas
vítimas de descontos não autorizados de mensalidades associativas serão
ressarcidos pelos prejuízos sofridos a partir de março de 2020 e até março de
2025.
Segundo Waller, na próxima terça-feira
(13), o instituto começará a notificar cerca de 9 milhões de beneficiários da
Previdência Social de cujos benefícios foram deduzidas as mensalidades de
filiação a associações, sindicatos e outras entidades sociais.
A notificação será feita por meio do
aplicativo Meu INSS e, alternativamente, pela Central de Atendimento telefônico
da autarquia, no número 135.
Caso a pessoa comunique ao INSS que não
autorizou os descontos, o instituto notificará a entidade para a qual repassou
toda a quantia cobrada junto ao benefício previdenciário.
A associação terá 15 dias úteis para
comprovar que o aposentado ou pensionista se filiou e autorizou o desconto em
folha.
Caso não consiga comprovar, terá que
devolver os recursos para que o INSS faça o ressarcimento ao cidadão.
ENTENDA O CASO
A cobrança em folha da mensalidade
associativa é permitida desde 1991, quando entrou em vigor a Lei dos Benefícios
da Previdência Social.
É feita com base nos Acordos de Cooperação
Técnica (ACTs) que o INSS assina com as entidades para as quais,
posteriormente, repassa o valor deduzido das aposentadorias e pensões.
Indícios de ilegalidades levaram a PF e a
CGU a deflagrar, no último dia 23, uma megaoperação para aprofundar as
investigações sobre um esquema nacional de descontos não autorizados.
Dois relatórios que a CGU divulgou nos
últimos dias demonstram que o caso já vinha sendo apurado também no âmbito
administrativo, pelo menos, desde o primeiro semestre de 2024.
A Operação Sem Desconto resultou, de
imediato, na exoneração do então presidente do INSS Alessandro Stefanutto, que
foi substituído por Waller.
Quatro dirigentes da autarquia e um
policial federal lotado em São Paulo também foram cautelarmente afastados de
suas funções. Poucos dias depois, o pedetista Carlos Lupi deixou o comando do
Ministério da Previdência Social, ao qual o INSS está subordinado.
No rastro da Operação Sem Desconto, o INSS
suspendeu os acordos de cooperação com todas as associações, sindicatos e
entidades e, consequentemente, os descontos automáticos de milhões de
beneficiários.
A AGU criou um grupo especial para propor
medidas judiciais e administrativas para tentar recuperar o prejuízo, ressarcir
os beneficiários do INSS prejudicados e propor novas medidas contra fraudes.
Por decisão judicial, mais de R$ 1 bilhão
em bens patrimoniais dos investigados já estão bloqueados para, eventualmente,
reparar parte dos danos.
Na quinta-feira, a AGU pediu à Justiça
Federal que bloqueie R$ 2,56 bilhões em bens de 12 entidades associativas e, na
sexta-feira (9), pediu mais um bloqueio de seis empresas e oito pessoas
investigadas, no valor de R$ R$ 23,8 milhões.
Dados do instituto e da CGU apontam para o
“súbito aumento no montante dos descontos de mensalidades associativas
realizados na folha de pagamento dos beneficiários do INSS” a partir de 2016,
quando os descontos associativos somaram R$ 413 milhões.
Em 2017, o montante subiu para R$ 460
milhões.
Já em 2018, foram descontados R$ 617 milhões.
Em 2019, R$ 604 milhões. Em 2020, em meio
à pandemia da covid-19, o valor caiu para R$ 510 milhões. Em 2021, o total
voltou a subir, atingindo R$ 536 milhões.
Em 2022, foram R$ 706 milhões.
Em 2023, R$ 1,2 bilhão.
E, no ano passado,
R$ 2,8 bilhões.
As reclamações ao INSS cresceram quase que
no mesmo ritmo dos descontos.
Só entre janeiro de 2023 e maio de 2024, o
instituto recebeu mais de 1,163 milhão de pedidos de cancelamento de cobranças.
A maioria, com a justificativa de que não
tinha sido autorizada pelos beneficiários ou seus representantes legais.
(Agência
Brasil)
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