domingo, 17 de agosto de 2014

DELEGADO MARCOS PAULO: "A POLÍCIA CIVIL, EM CAMPINA, COMEÇOU A RECONQUISTAR A CONFIANÇA DA SOCIEDADE"


Marcos Paulo dos Anjos Vilela, de 37 anos, Delegado de Policia desde 2006, comanda cerca de 400 policiais civis em 107 cidades que compõem a 2ª Superintendência Regional na Paraíba.
O alagoano de Maceió, Pós Graduado em Direito Constitucional, é um policial comedido e atento.
Do Sertão ao Litoral, Vilela atuou em várias delegacias paraibanas até que, em julho do ano passado, assumiu o cargo de Superintendente Regional em Campina Grande.


O QUE FEZ O SENHOR ESCOLHER A PROFISSÃO DE DELEGADO?
Quando iniciei a faculdade de Direito em Maceió havia 17 anos, apesar de saber das várias opções que a formação nesse curso proporciona, tinha em mente apenas três cargos: Delegado de Polícia Civil, Promotor de Justiça e Juiz de Direito.
Com o andar do Curso tive a certeza, ao apaixona-me pelas matérias de Direito Penal, Processo Penal e Direito Constitucional, como também o exemplo do meu pai que se aposentou como Delegado de Polícia Civil do Estado de Alagoas, que se conseguisse chegar a um desses cargos citados estaria realizado.
Hoje posso afirmar que sou Delegado de Polícia Civil com muito orgulho e acho que estou na função certa.


COMO É DIVIDO O TEMPO COM A FAMÍLIA?

Com muita habilidade e compreensão, já que ser Delegado de Polícia é preciso muita abnegação.
Contudo, no meu caso não é tão difícil, por não ter filhos e minha esposa também ser Delegada de Polícia Civil.


PARA SER UM BOM POLICIAL, O QUE É NECESSÁRIO?

Comprometimento institucional, probidade, humanidade, paciência, humildade, persistência, perspicácia e, sobretudo, coragem.


EM CAMPINA GRANDE ACONTECE UMA SITUAÇÃO INVERSA, OU SEJA: A PORCENTAGEM DE ELUCIDAÇÃO DOS CRIMES DE MORTE É MUITO ALTA, SUPERA A MÉDIA NACIONAL.
A QUE SE DEVE ISSO?

Muito simples, FOCO!
A Delegacia de Homicídios de Campina Grande até 2010 contava apenas com um Delegado de Polícia, um Escrivão, um Investigador e uma viatura caracterizada, a exemplo de outros Estados.
Hoje nós temos quatro Delegados, quatro Escrivães, dezesseis investigadores, oito viaturas descaracterizadas e uma caracterizada (essa para os locais de crime).

Todos os policiais passaram por vários cursos (local de crime, técnica de interrogatório, investigação em crime de homicídio, entre outros).
Desde 2011 que é essa a Delegacia que vai para local de crime de homicídio, diferentemente do que acontecia. 
Nossa gestão não só priorizou a investigação de crime dessa natureza (e para isso tivemos que sacrificar outras delegacias), como ofertamos condições para isso, e por isso estabelecemos metas e cobramos muito desses policiais.
Só esse ano já são mais de 70 prisões, sendo 22 apenas no mês de julho.


COM QUANTO TEMPO UM POLICIAL CIVIL “ESTÁ PRONTO” PARA IR PARA A RUA?

A formação de um policial civil no Brasil nas Academias de Polícia leva em média 04 meses, mas acho que poderia chegar a 06 meses.
Agora a situação de o policial estar pronto para ir à rua, a bem da verdade, isso é relativo, pois são várias as situações que envolvem a atividade profissional de um policial, e para isso o Delegado de Polícia tem de sentir com o dia a dia quais das missões aquele policial estar apto a desempenhá-las.


O TERMO “A POLÍCIA ENXUGA GELO” FOI BASTANTE USADO RECENTEMENTE. A IDEIA É DE QUE A POLÍCIA PRENDE E A JUSTIÇA SOLTA. COMO O SENHOR ANALISA ISTO? OS INQUÉRITOS SÃO MAL FEITOS? A PM PRENDE DE MANEIRA ALEATÓRIA SEM PROVAS?

Esse termo “a polícia enxuga gelo”, em um primeiro momento pode levar a conclusões precipitadas.
Só para se ter uma ideia, em janeiro de 2011 a população carcerária na Paraíba era de pouco mais de 8.000 presos e hoje esse número ultrapassa a casa dos 9.700, portanto o sistema penal (Polícias, Judiciário, Ministério Público) ainda consegue manter preso uma parte dos criminosos.
É claro que não podemos esquecer que o Sistema Prisional no país não recupera criminosos, que as Polícias precisam melhorar, que o Ministério Púbico e o Judiciário também precisam melhorar e trabalhar em conjunto, mas não é só isso, precisa-se de cada vez mais políticas públicas para tirar e impedir a entrada de jovens na criminalidade.
E ainda acrescento que essas Instituições têm de ter coragem de cortar na própria carne, porque maus servidores públicos não só existem nas Polícias, há em toda parte, e não é diferente no Ministério Público, no Judiciário etc.
E quando falo isso, não me restrinjo aos funcionários públicos que cometem crimes, abranjo aqueles que não querem trabalhar, aqueles que atendem mal a população.
Por último, a legislação penal deve passar por uma reforma geral, adequando-se a realidade vivenciada pelo País hoje, onde a criminalidade não teme mais o sistema penal, apesar de saber que hoje o Brasil é refém de 11 homens (11 Ministros do STF), pois todo tipo de lei penal mais rígida sempre é interpretada de maneira mais branda, quando não é declarada inconstitucional por esse Tribunal.


COMO O SENHOR ANALISA O JUDICIÁRIO DE NOSSA CIDADE, ESPECIFICAMENTE?

Apesar das críticas ao Judiciário Nacional que comumente vemos, digo que o Judiciário de Campina Grande, ao menos o criminal que é o que faz parte do meu dia a dia, é comprometido no combate a criminalidade.
Para isso, basta ver o número de prisões realizadas na cidade decorrentes de mandados de prisão deferidas pelos Juízes após representações dos Delegados de Polícia.


“A MORTE DO CASAL WASHINGTON E LÚCIA” FOI UM CRIME COMPLEXO, MAS COM DE INVESTIGAÇÃO EFICIENTE. FOI UM TRIUNFO DA PC EM CAMPINA GRANDE. COMO O SENHOR ANALISA O CASO?

Veja, nesse caso de Washington e Lúcia, a Polícia Civil demonstrou á sociedade à verdadeira atribuição da Polícia Judiciária, qual seja: comprovar a materialidade do delito e a verdadeira autoria do crime, seja ele quem for, pautada em um trabalho silencioso, técnico, isento, imune a pressões das famílias das vítimas, da sociedade e da imprensa, pressão essa que é natural!
Não só com esse caso, mas tantos outros, aliada a postura dos profissionais que fazem a Polícia Civil de hoje.
Essa Instituição começa a reconquistar o respeito da sociedade e das outras Instituições. 


PEGANDO ESSE GANCHO, O DISQUE “197” É DE FATO UM GRANDE PARCEIRO?

O Disque Denúncia 197, tem ajudado sobremaneira a Polícia Civil a desvendar vários crimes.
E aproveito para rogar a população que continue denunciando e confiando na Polícia Civil.


QUAL A GRANDE MUDANÇA QUE O SENHOR VÊ NA PC?

A grande mudança que vem ocorrendo na Polícia Civil é o profissionalismo com a investigação.
É esse comprometimento em buscar a verdade dos fatos e sem alarde, conseguindo prender quem quer que cometa um delito, não importando se pobre ou rico, se analfabeto ou doutor, se preto ou branco.


QUAL O CASO MAIS COMPLEXO QUE O SENHOR TEVE QUE INVESTIGAR?

O caso Rebeca em João Pessoa.
Ela foi estuprada e morta em julho de 2011.           

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