terça-feira, 3 de dezembro de 2019

EM CARTA AOS PARAIBANOS, GOVERNADOR JOÃO AZEVÊDO ANUNCIA DESFILIAÇÃO DO PSB

Um dia após receber duras críticas do ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), o governador João Azevêdo anunciou, nesta terça-feira (03/12), a desfiliação do Partido Socialista Brasileiro (PSB).

Em carta divulgada ao povo paraibano, o gestor afirma que chegou a aguardar o restabelecimento do diálogo no PSB, mas, diante da falta de qualquer atitude de autocrítica depois da intervenção no Diretório Estadual, sai da legenda “em busca da democracia perdida”.
Leia a carta na íntegra:
Saio do PSB em busca da democracia perdida.
Ao povo paraibano.
Tenho exercido os limites da paciência para não incorrer nas falhas que a pressa leva sempre a cometermos.
Mas, como humanos, todos temos nossos limites. E o meu chegou com o PSB, partido ao qual sou filiado e me elegi governador em 2018.
Desde a dissolução do Diretório Estadual, em agosto deste ano, sucedido por uma intervenção nacional ou simplesmente pelo golpe aplicado – segundo companheiros de partido e a imprensa local, que o incômodo com a situação só se agravava e exigia, mais cedo ou mais tarde, uma tomada de decisão.
E ela chegou.
Saio do PSB em busca da democracia perdida.
Muitos achavam que essa decisão deveria ter sido imediata ao ato de força que culminou com a dissolução do Diretório eleito em congresso, sem a menor justificativa.
Ou quando foi nomeada uma Comissão Interventora pela direção nacional da legenda que colocaram meu nome junto com o senador Veneziano Vital e outros dois companheiros, sem consulta alguma, nessa tal Comissão Interventora.
Não a tomei em nenhum desses momentos, embora justificativas não faltassem, justamente para que os ânimos pudessem ser serenados, o diálogo restabelecido e a ordem verdadeiramente democrática voltasse a predominar no PSB paraibano.
O que se viu, no entanto, foi a falta de qualquer gesto ou atitude de autocrítica pelo terrível erro cometido com a bonita história de nosso partido na Paraíba.
Nos nivelamos a legendas autocráticas, de ocasião, sem zelo pelos mandatos eletivos em andamento.
E pensar que o partido acaba de realizar evento nacional para promover uma Autorreforma.
Sem democracia interna não existem sequer reformas, imaginem autorreforma.
A democracia que defendemos não deve ser um conceito vago, um ser abstrato, que se usa quando convém, para embasar as próprias teses e dar ganho de causa a argumentos e procedimentos.
Democracia é uma palavra viva que precisa estar presente no nosso dia a dia.
E eu procuro praticá-la nas minhas atividades, no cotidiano, com minha equipe, com amigos, com companheiros e companheiras, na relação com a comunidade, com as instituições e os movimentos sociais.
Uma prática que adoto em família, compartilhando com minha esposa e estendendo esse conceito a filhos e netos, como um legado de vida.
Mágoas e rancores não cabem em meu coração.
Apenas lamentações.
A primeira, por ter que deixar o partido pelo qual fui eleito.
Sem antes deixar de agradecer a todos os militantes, dirigentes e colaboradores que confiaram nas nossas propostas e têm hipotecado solidariedade irrestrita nesse momento tão delicado.
A segunda e última lamentação eu não poderia deixar de registrar, porque essa dói profundamente e não vou guardar apenas comigo, pois isso faz mal à alma.
Ironicamente, as maiores críticas ao nosso Governo nesses 11 meses não vieram da oposição, dos partidos políticos, dos sindicatos e associações de classe, dos deputados na Assembleia, da imprensa, dos artistas e intelectuais, das universidades e da sociedade em geral, que têm toda legitimidade para contestar e apontar os caminhos a serem seguidos pelos governantes.
A maioria das críticas – ou melhor, dos ataques –, veio de membros do nosso próprio partido.
E não foi do militante lá na ponta ou de alguém que votou e contribuiu de alguma forma, talvez desgostoso com algum fato menor ou desentendimento com alguém dos quadros governamentais.
O antagonismo veio de figuras de proa do PSB, que mesmo antes da Intervenção ou do golpe, já atacavam o Governo, secretários e o governador.
Cheguei a ser severamente criticado em entrevistas e redes sociais simplesmente por dar continuidade ao Projeto do PSB, por sequenciar obras e realizações que não foram concluídas até 31 de dezembro de 2018 e muitas dadas como concluídas e inauguradas. Mantivemos nomes e continuamos todos os programas e projetos do Governo anterior, com direito a ampliá-los, incorporando novas visões e atores sociais.
Mantive grande parte da equipe anterior, mesmo assim, pelo fato de ter realmente assumido as funções de governador do estado, tomando minhas próprias decisões, com possíveis erros e acertos, não foi do agrado de alguns que achavam que continuariam a governar a Paraíba.
Convivi neste período, com boicotes e sabotagens internos à gestão promovidos por alguns, que apegados a funções e salários, não tiveram a dignidade de entregar seus cargos, agindo ou não sob algum tipo de comando superior.
Confesso que ainda não entendi o porquê disso tudo.
Quais objetivos se escondem – se é que existem ou foi de ato impensado – para a semeadura de tanta discórdia em uma legenda que venceu as eleições de forma consagradora e transformou-se na maior agremiação partidária do Estado.
Mas, como a vida é feita de ciclos, iniciaremos uma nova caminhada a partir de hoje.
‘A cada chamado da vida, o coração deve estar pronto para a despedida e para novo começo, com ânimo e sem lamúrias’, assim escreveu um famoso escritor alemão.
Quero agradecer aos inúmeros convites que tenho recebido, de dirigentes estaduais e nacionais, para ingressar em uma nova legenda.
Não abri diálogo e nem avancei em qualquer tratativa, ante minha filiação anterior ao PSB.
Mas irei fazê-lo neste final de ano, a fim de iniciar 2020 em uma nova e acolhedora casa.
Não pretendo criar novo partido ou seguir modismos oportunistas. Acredito que o fortalecimento da democracia passa por partidos programáticos, ideológicos, com diversidade, unidade e, principalmente, com eleições internas de seus membros em fóruns regimentais e respeito às decisões de todas as instâncias partidárias.
Irei mudar de partido porque o meu atual desconfigurou-se por completo na Paraíba.
Mas os princípios e o conjunto de ideias que acredito, caminharão sempre comigo.
Vou procurar uma legenda que se afine com nossa visão de mundo e de Brasil, que não seja sectária, dona da verdade, que não exerça patrulha ideológica e refute alianças programáticas. Também que não flerte com o extremismo, com o fanatismo político, seja de direita ou de esquerda, nem tampouco pratique a idolatria personalista.
Que os discursos para dentro sejam os mesmos para fora.
Que a verdade seja sempre o que norteie as decisões.
Que o dinheiro público seja respeitado.
Acredito em um partido que abrace o pluralismo de ideias, a independência e o respeito entre os poderes; que professe a liberdade de imprensa e de religião, o estado laico, o multiculturalismo, o desenvolvimento sustentável, a globalização e a inclusão social com desenvolvimento; a defesa das causas ambientais, o direito das minorias e o respeito às famílias; a diversidade, o empreendedorismo e o Estado para corrigir as desigualdades e também como indutor da economia; os valores cristãos, sem usar em vão o nome de Deus em atividade política; e, por fim, a harmonia, o diálogo e a paz social entre nós cidadãos.
Aos amigos e amigas que esperaram por essa decisão e confiam em nosso trabalho, que com muita humildade e seriedade vem mantendo e melhorando praticamente todos os índices da Paraíba, em destaque no cenário nacional, convido-os para nos acompanhar nessa caminhada que se inicia.
A partir de hoje, vou consultar muitos de vocês para que tomemos a decisão em conjunto, porque ninguém, sozinho, é dono da verdade.
Aos paraibanos e paraibanas, meus sinceros respeitos.
Ajudem-me a continuar trilhando o mesmo caminho confiado, até o dia 31 de dezembro de 2022.
DEMOCRACIA, SEMPRE!
DITADURA, NUNCA MAIS!"
João Azevêdo Lins Filho
Governador da Paraíba
(Do Paraíba Todo Dia)

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