A Justiça mandou prender, por
corrupção, o prefeito, a vice e todos os 11 vereadores de Turilândia, no
interior do Maranhão.
Um neurocirurgião acusado de atuar como
agiota e emprestar dinheiro ao prefeito também foi preso.
Os agentes encontraram na casa do irmão dele
mais de “2 milhões de reais” em dinheiro.
O Ministério Público investiga o prefeito,
a vice e todos os 11 vereadores por organização criminosa e prática de
corrupção. Segundo os promotores, o esquema desviou mais “56 milhões de reais” dos
cofres públicos em menos de quatro anos.
Segundo o Ministério Público, desde 2021,
um posto de combustível que pertence à ex-vice-prefeita Janaína e ao marido
dela era utilizado para a lavagem do dinheiro.
A prefeitura pagava por abastecimentos que
não ocorreram, e os valores retornavam diretamente para o prefeito Paulo Curió.
Ainda de acordo com o Ministério Público,
a responsável pelos pregões eletrônicos no município, Clementina de Jesus
Pinho, admitiu que quase a totalidade das licitações da prefeitura era
fraudada.
Clementina também está presa.
Mesmo investigado, o presidente da Câmara,
José Luís Araújo, do União Brasil, vai assumir o comando da cidade, porque não
foi afastado do cargo.
Na decisão da 3ª Câmara Criminal do
Tribunal de Justiça do Maranhão, os desembargadores citam investigação do
Ministério Público que detalha como uma organização criminosa estruturada se
instalou na Prefeitura e na Câmara Municipal de Turilândia, a 157 km de São
Luís, para desviar recursos públicos, principalmente das áreas da Saúde e da
Assistência Social.
Os atos de corrupção motivaram a criação
da Operação Tântalo II, deflagrada na última segunda-feira (22), que levou à
prisão o prefeito Paulo Curió (União Brasil) e a vice-prefeita Tânia Mendes.
A
ação é um desdobramento da Operação Tântalo, realizada pelo GAECO em fevereiro
deste ano.
Além dos gestores, há empresários,
servidores, 11 vereadores e 1 ex-vereador investigados por integrar o esquema
de corrupção.
Vários já tiveram a prisão cumprida, mas cinco vereadores ainda
são foragidos.
São eles:
Gilmar Carlos (União Brasil)
Savio Araújo (PRD)
Mizael Soares (União)
Inailce Nogueira (União)
Ribinha Sampaio (União)
Como funcionava o esquema
Segundo o MP-MA, foram desviados mais R$
56 milhões por meio de empresas criadas de forma fictícia pelo prefeito e seus
aliados.
O grupo atuava de forma hierarquizada, com
divisão clara de tarefas entre agentes políticos, operadores financeiros e
empresários.
Há indícios de organização criminosa,
fraude à licitação, corrupção ativa e passiva, peculato e lavagem de dinheiro.
As irregularidades teriam ocorrido durante a gestão do prefeito Paulo Curió,
entre 2021 e 2025.
Prefeito Paulo Curió: liderança e
destino final do dinheiro
De acordo com a investigação, o prefeito
José Paulo Dantas Silva Neto, o Paulo Curió (União Brasil), era uma liderança
na organização criminosa e destinatário de grande parte dos valores desviados.
No esquema, ele atuava como:
Ordenador de despesas do município.
Direcionador de licitações.
Pagador com recursos públicos, mesmo sem
comprovação da execução dos serviços.
Em um dos trechos citados na decisão, o
Ministério Público afirma que o esquema funcionava por meio da chamada “venda
de notas fiscais”, em que empresas contratadas “emitiam notas fiscais sem a
correspondente prestação de serviços, devolvendo a maior parte dos valores ao
núcleo político da organização”.
Vice-prefeita Tânia Mendes:
engrenagem do núcleo empresarial
Tânia Karla Cardoso Mendes Mendonça,
vice-prefeita de Turilândia, aparece nos autos como integrante do núcleo
empresarial e operacional da organização criminosa. Segundo o MP, ela era:
Vinculada a empresas usadas no esquema.
Participava na movimentação e circulação
dos recursos desviados.
A Justiça aponta que pessoas como Tânia
Mendes eram essenciais para “dar aparência de legalidade às contratações e
facilitar a lavagem de capitais”.
Ela não é apontada como líder, mas como
peça ativa na execução prática das fraudes.
Ex-Vice-prefeita Janaina Lima:
controle empresarial e retenção dos valores
A ex-vice-prefeita Janaina Soares Lima é
apontada como peça central do esquema, especialmente no núcleo empresarial.
Ela teria atuado como controladora de fato
do Posto Turi, empresa que mais recebeu recursos do município.
Ela ainda:
Atuava como procuradora da empresa, mesmo
exercendo cargo político.
Participava diretamente da retenção de
percentuais dos contratos.
Segundo os autos, diálogos interceptados
mostram que Janaina tratava os valores retidos como um “imposto” dentro do
esquema, além de cobrar diretamente o prefeito pela liberação de pagamentos.
Janaína e seu marido, Marlon Zerrão - que
é tio da atual vice-prefeita - tiveram um papel central no desvio de recursos.
O Posto Turi recebeu R$ 17.215.000,00 dos
cofres públicos de Turilândia, segundo o MP-MA.
Janaína e Marlon firmaram um acordo com o
prefeito Paulo Curió para reter 10% dos valores dos contratos do Posto Turi.
Esse valor era destinado ao pagamento da
faculdade de medicina de Janaína Lima, enquanto os 90% restantes eram entregues
ao prefeito ou a quem ele indicasse.
Vereadores: apoio político e
omissão na fiscalização
As decisões judiciais apontam que a Câmara
Municipal de Turilândia também foi integrada ao esquema.
Segundo a investigação, os parlamentares:
Teriam sido cooptados politicamente.
Recebiam pagamentos periódicos.
Garantiam apoio ao prefeito e se omitiram
do dever de fiscalização.
A investigação destaca também que os
valores desviados “não apenas enriqueciam o prefeito e sua família, mas também
eram distribuídos aos vereadores”.
A Justiça autorizou busca e apreensão nos
gabinetes parlamentares, para recolher documentos, registros financeiros e
comunicações.
Wandson Jonath Barros: o operador
financeiro
Apontado como o principal operador do
esquema, Wandson Barros é descrito como o responsável pela engenharia
financeira dos desvios.
Ele:
Gerenciava a circulação do dinheiro.
Distribuía valores entre políticos e
empresas.
Criava empresas de fachada e utilizava
“laranjas”.
Recebia 3% sobre contratos fraudados.
O processo afirma que ele atuava como
“braço direito" do Prefeito, recebendo ordens diretas, minutando
documentos oficiais, recebendo pagamentos, distribuindo propinas e gerenciando
toda a logística dos desvios”.
Empresas usadas para desviar
dinheiro
Posto Turi - Empresa que mais recebeu
recursos públicos.
Firmou dezenas de contratos considerados
incompatíveis com a realidade do município.
Luminer Serviços
Climatech Refrigeração
SP Freitas Júnior
JEC Empreendimentos
Potencial Empreendimentos
Segundo os autos, essas empresas “emitiam
notas fiscais sem contraprestação real e devolviam os valores ao núcleo
político”.
Prisões
Após ser preso, Paulo Curió e a vice,
Tânia Mendes, foram encaminhados para a Unidade Prisional de Ressocialização de
Pedrinhas, em São Luís, para cumprir prisão preventiva.
Já os 11 vereadores tiveram a prisão
preventiva convertida para domiciliar ou uso de tornozeleira eletrônica.
"A Justiça preferiu transformar as
prisões dos vereadores em domiciliar ou tornozeleira para não interromper as
atividades em Turilândia, já que agora o presidente da Câmara terá que assumir
o cargo de prefeito", explicou o promotor do Grupo de Atuação Especial
de Combate ao Crime Organizado (GAECO), Fernando Berniz.
(Por g1 MA)

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