O ministro Marco Aurélio Mello, do
Supremo Tribunal Federal (STF), mandou soltar na última quarta-feira (19/12) o
empresário Renato Grembecki Archilla, condenado a 14 anos de prisão por mandar
matar a própria filha.
O caso, ocorrido em 2001, ficou
conhecido como Crime do Papai Noel, pois o homem contratado para executar a
vítima se fantasiou como o bom velhinho.
A mulher conseguiu sobreviver.
A decisão do ministro do STF foi dada no
mesmo dia em que ele também concedeu liminar para soltar condenados em segunda
instância que não tiveram seus casos transitados em julgado, ou seja, que ainda
podem recorrer a tribunais superiores.
Esta liminar, porém, foi suspensa pelo
presidente do STF, Dias Toffoli, no mesmo dia.
A procuradora-geral da República, Raquel
Dodge, recorreu no sábado (22) da decisão de soltar Archilla.
Ela alega que a
pena foi considerada transitada em julgado pelo Tribunal de Justiça de São
Paulo e a ordem de soltura foi dada sob a equivocada percepção de que se
trataria de execução provisória.
Archilla foi condenado em 2017, pelo
Primeiro Tribunal do Júri de São Paulo, à pena de 10 anos, 10 meses e 20 dias
de reclusão, em regime fechado.
Após recurso do Ministério Público, a
pena foi aumentada para 14 anos.
A prisão do empresário, porém, ocorreu
apenas no dia 12 deste mês, quando o TJ-SP determinou a certificação do
trânsito em julgado, com o argumento de coibir os expedientes protelatórios do
condenado.
Com isso, mesmo com a possibilidade de
recursos em instâncias superiores, para Dodge não há que se falar em execução
provisória.
Segundo a procuradora-geral da
República, possivelmente a defesa induziu em erro, pois “adota como premissa a existência
de uma condenação mutável e de que a ordem de prisão seria para o fim de se
promover a execução provisória do julgado”.
A procuradora-geral afirma ainda que o
recurso tem como propósito impedir a soltura do empresário, já que “as
comunicações da decisão já foram enviadas para os demais juízos vinculados ao
caso e o cumprimento indevido da ordem de soltura é premente”.
Dodge afirma ainda que o próprio acórdão
proferido pelo Tribunal destaca a necessidade do cumprimento da pena em regime
fechado, devido à violência e à gravidade do delito praticado.
A ordem de soltura ainda não havia sido
cumprida neste domingo (23).
Renato está preso na penitenciária de
Parelheiros, zona sul de São Paulo. Para o advogado Santiago Andre Schunck, que
defende o empresário a decisão de Marco Aurélio foi acertada.
“A condenação de Renato Archilla é um
verdadeiro equivoco e a defesa vai provar a sua inocência”, disse.
Sobre o pedido da PGR para reverter a
liminar, Schunk espera não haver urgência a ponto de o STF decidir durante o
recesso judiciário, que vai até fevereiro.
“Além disso, o fundamento invocado para o seu
pedido (da PGR) é o de que já há trânsito em julgado da decisão condenatória
proferida pelo TJ-SP, porém, a defesa atacou a certificação do trânsito no HC
em que a liminar foi deferida, por entendê-la ilegal e precipitada”,
afirmou o advogado.
O
CASO
O crime aconteceu em 17 de dezembro de
2001.
Renata tinha 22 anos quando foi abordada
por um homem vestido de Papai Noel em um semáforo no Morumbi, na zona oeste de
São Paulo.
Ela recebeu três tiros, dois dos quais
no rosto, mas sobreviveu.
O pistoleiro era o policial militar José
Benedito da Silva, que já havia sido condenado pelo TJ-SP a 13 anos de prisão.
Na agenda do policial havia o telefone
do avô de Renata e pai de Renato, o fazendeiro Nicolau Archilla Galan, que
morreu antes de ser julgado.
A mãe de Renata conheceu seu pai nos
anos 1970, no Guarujá, no litoral paulista, e ficou grávida aos 17 anos.
A família do rapaz não queria que ele
assumisse a paternidade e o casal se separou.
A menina estudava no Colégio Sacré Coeur
e o rapaz, no Colégio Rio Branco.
Com o nascimento de Renata começou um
processo que durou 12 anos para que a paternidade da criança fosse reconhecida.
Renato, no entanto, nunca quis saber da
filha.
(Estadão)
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