quarta-feira, 22 de julho de 2020

SOBRE PINTO E O FORRÓ. ENQUANTO CHORO EMOCIONADO OUVINDO SEUS ACORDES...

De Jonas Duarte*
Esses cantores nordestinos, forrozeiros, vêm todos de baixo.
Gil, em sua genialidade disse que o Baião vem de baixo do barro do chão.
Esses forrozeiros pisaram esse chão descalços, se equilibrando em corpos franzinos, muitos, famintos.
Gonzaga, o "pai" de todos, por ser negro e pobre não pôde viver sua paixão juvenil por uma estudante (sinônimo de ser rica nos sertões nordestinos dos anos 30) e fugiu de casa, mentindo sua idade, pra entrar no Exército e escapar da fome.
Jackson do Pandeiro, descendente de Quilombolas, era "nêgo fubento" que perambulava nas ruas de Campina Grande, com balaios de pães na cabeça entregando nas bodegas do Zepa.
Descansava seu corpo franzino e faminto nos cabarés da cidade onde as proprietárias, generosamente, o abrigava.
Deu em música de gratidão a Zefa Tiburtina e outras.
Zé Calixto conta que, com um fole velho, pra ganhar o pão, colocou "broxas" no teclado e tocou com os dedos sangrando, em carne viva. Tinha entre 10 e 12 anos.
Houve momentos que o acordavam cochichando sobre o fole, em bailes que varavam a madrugada.
Trabalho infantil.
Pra sobreviver.
Dominguinhos foi pro Rio como retirante.
Pra escapar da fome nordestina, tão presente naquelas vidas, naqueles tempos.
Pinto.
Negro, pobre, do mato.
Trabalhou árduo ainda criança.
"Bateu" 20 milheiros de tijolo pra comprar sua sanfona.
Essa é a síntese da história de alguns dos mais famosos.
Imaginem a dos que não alcançaram tanto sucesso.
É essa a trajetória destes que produzem estes sons maravilhosos do Forró.
Observem que mais de 90% são negros e com pouquíssimo grau de escolaridade formal.
É desse chão popular, negro, que floresce o forró.
Que surgiu "Pinto do Acordeon".
Meu respeito aos forrozeiros e forrozeiras.
*Jonas Duarte possui graduação em Bacharelado em História pela Universidade Federal da Paraíba (1989), mestrado em Economia Rural [C. Grande] pela UFPB (1996) e doutorado em História Econômica pela Universidade de São Paulo (2003).
É professor Associado IV da UFPB. 
Membro da Comissão Pedagógica Nacional do PRONERA. Coordenador do Curso de história PRONERA UFPB.
Coordena Projeto de Extensão de Assessoria o CFEJPT. 
Principais temas de estudos: Economia e Sociedade no Semiárido Brasileiro Brasileiro, com ênfase em Políticas Públicas, Educação do Campo e Contextualizada ao Semiárido, Reforma Agrária e Convivência com o Semiárido.
(Por www.renatodiniz.com)

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