*Em entrevista, Lula declarou também que
ficou com "a impressão de que era o começo de um golpe de Estado"
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) afirmou, nesta quarta-feira (18/01) que houve conivência por parte de
autoridades públicas durante os atos golpistas no último dia 8, em Brasília.
Lula declarou também que ficou com
"a impressão de que era o começo de um golpe de Estado".
As declarações foram dadas durante uma
entrevista para a GloboNews.
“Eles entraram porque a porta estava aberta.
Alguém de dentro do palácio abriu a porta para eles, só pode ter sido. Houve
conivência de alguém que estava aqui dentro."
Quando ficou sabendo da invasão, Lula
disse que ligou para o chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI),
General Gonçalves Dias, perguntando onde estavam os soldados.
“Eu não via soldado. Eu só via gente
entrando. Eu não via soldado reagindo, não via soldado reagindo. Sabe? E ele
dizia que tinha chamado soldado, que tinha chamado soldado. Ou seja, e esses
soldados não apareciam. Eu fui ficando irritado porque não era possível a
facilidade com que as pessoas invadiram o palácio do presidente da República."
Após o início dos atos, o presidente
contou que conversou com o ministro da Justiça, Flávio Dino.
Lula explicou porque recusou a sugestão
de auxiliares para adotar a Garantia da Lei e da Ordem (GLO).
As operações de GLO são adotadas em
situações graves de perturbação da ordem em que se esgotam as possibilidades de
ação das forças de segurança pública dos Estados.
Essas ações são executadas pelas Forças
Armadas.
"Quando fizeram GLO no Rio de
Janeiro, o Pezão virou 'Rainha da Inglaterra'. Eu tinha acabado de ser eleito
Presidente da República. Eu não ia abrir mão de cumprir minhas funções e
exercer o poder na sua plenitude. Por isso, decidimos a intervenção na polícia
de Brasília, que tinha sido conivente com o caso. Tinha uma visão minha e de
todas as pessoas que houve uma negligência da Polícia Militar de Brasília."
CRÍTICAS
A BOLSONARO
Em outro trecho da entrevista, o
presidente falou sobre como o comportamento do ex-presidente Jair Bolsonaro
influenciou os atos em Brasília.
Lula declarou também que ficou com
"a impressão de que era o começo de um golpe de Estado".
“Eu acho que a decisão dele de ficar quieto
depois de perder as eleições, semanas e semanas sem falar nada. A decisão dele
de tomar a decisão de não passar a faixa para mim, de ir embora para Miami como
se estivesse fugindo com medo de alguma coisa e o silêncio dele mesmo depois do
acontecimento daqui, me dava a impressão que ele sabia de tudo o que estava
acontecendo, que ele tinha muito a ver com aquilo que estava acontecendo."
“Obviamente que quem vai provar isso são as
investigações. Mas a impressão que me deixava era essa. Possivelmente esse
Bolsonaro estivesse esperando voltar para o Brasil na glória de um golpe. Sabe?
E eu, então, não podia permitir GLO. Eu tinha que tomar a decisão política e
tomamos a decisão certa”, continuou.
ATOS TERRORISTAS PREMEDITADOS E FALHA NA
SEGURANÇA
Ainda de acordo com o presidente, os
atos estavam sendo convocados "há mais de uma semana" pelas
redes sociais e, por isso, houve uma falha de inteligência para prevenir a
invasão.
"Não foi nenhum analfabeto
político que invadiu isso aqui. Era gente que preparou isso durante muito
tempo. Eles não tiveram coragem de fazer nada durante a posse. Na verdade, nós
cometemos um erro, eu diria elementar: a minha inteligência não existiu. Eu saí
daqui na sexta-feira com a informação que tinham 150 pessoas no acampamento,
que tava tudo tranquilo, que não iriam permitir que entrasse mais ônibus, que
não iriam permitir que juntasse mais ninguém. Eu viajei para São Paulo na maior
tranquilidade. E aconteceu o que aconteceu", afirmou.
Apesar das falhas de segurança
apontadas, Lula acredita que os envolvidos com os ataques terroristas na
capital federal eram pessoas profissionais e preparadas.
“O dado concreto é que, segundo todo
depoimento, as pessoas que vieram aqui eram profissionais. As pessoas que
vieram aqui conheciam o Planalto, conheciam a Câmara, conheciam o Judiciário.”
CPI
CONTRA GOLPISTAS
Lula se mostrou contrário à criação de
uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar os atos de vandalismo
em Brasília.
Segundo o presidente, a CPI poderia causar uma “confusão
tremenda”.
“O que você pensa que a gente vai ganhar com
uma CPI? Eu, sinceramente. É uma decisão do Congresso Nacional, não é minha.
Portanto, os partidos políticos, na Câmara e no Senado é que vão decidir”,
afirmou.
INVESTIGAÇÕES
CONTRA ANDERSON TORRES
Para Lula, Anderson Torres, ex-ministro
da Justiça de Bolsonaro e ex-secretário de Segurança Pública do DF, "sabia
o que ia acontecer".
Em seguida, o presidente reforçou que
Torres será investigado.
“[Ele] sabia o que ia acontecer, foi embora e
quando voltou deixou o celular lá. Pra gente não fazer as investigações. Mas
nós vamos fazer as investigações.”
O petista defendeu ainda que todos os
envolvidos nos ataques sejam condenados.
No entanto, Lula pregou que o inquérito
seja conduzido com “muita tranquilidade” para que seja “o mais correta possível”.
“Nós vamos apurar com muita paciência. Eu não
quero ser precipitado, eu não quero cometer o erro que foi cometido na década
de 70 contra a esquerda, que você prendia, torturava, e não nós não vamos fazer
nada disso. As pessoas que foram presas vão ser ouvidas, sabe? As pessoas vão
ter direito à defesa, sabe? As pessoas vão ser punidas se a gente provar que
eles foram culpados”, pontuou.
FORÇAS
ARMADAS
O presidente afirmou que quer se
encontrar novamente com os comandantes das Forças Armadas para debater a não
politização nas instituições.
“É preciso que os comandantes assumam a
responsabilidade de dizer: o soldado, o coronel, o sargento, o tenente, o
general, ele tem direito de voto, ele tem direito de escolher quem ele quiser
para votar. Agora, como ele é um cargo de carreira, ele defende o Estado
Brasileiro.”
(Por Terra)
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