quinta-feira, 19 de janeiro de 2023

“BORA CAUSAR A DESORDEM”: MILITAR PRESO ESTIMULOU ATAQUES EM BRASÍLIA

Militares da reserva das Forças Armadas estimularam os ataques golpistas contra as sedes dos três Poderes no dia 8 e acabaram presos. 

Com um cruzamento de dados entre a lista de presos e os cadastros de militares da ativa e aposentados, o UOL encontrou quatro militares da reserva e um ex-militar entre os detidos.
INCITAÇÃO DE DESORDEM E VÍDEO APÓS PRISÃO
O preso com mais alta patente é Nader Luis Martins, capitão da reserva do Exército —ele deixou o serviço ativo em fevereiro de 2018, segundo dados do Portal da Transparência da União.
*Morador de Curitiba, ele participou de um acampamento golpista em frente a um quartel do Exército na capital do PR;
*Antes dos ataques aos três Poderes, foi para Brasília e acampou em frente ao QG do Exército, principal reduto de extremistas do país;
*Na véspera dos ataques, em 7 de janeiro, ele publicou um vídeo em seu Facebook estimulando ações violentas em Brasília.
Bora povo brasileiro causar a desordem na cidade. Com desordem e tumulto vira o caos. Somente assim será acionado a GLO [decreto de Garantia da Lei e da Ordem]. Cantar em frente ao quartel não dá mais. Povo nas refinarias e nas ruas. Para ônibus, carros e vamos em frente. Trava tudo." (Nader Luis Martins, capitão da reserva preso no ato golpista).
Como outros presos, Nader usou o celular dentro da detenção, no ginásio da PF, para reclamar do tratamento recebido pelos golpistas.
Fomos detidos por participar da manifestação ontem lá na Esplanada dos Ministérios. Fomos considerados terroristas."
O UOL procurou o Exército para comentar a conduta de Nader, mas não respondeu até o fechamento desta reportagem.
MILITÂNCIA POLÍTICA NA ATIVA
Outro militar preso por envolvimento direto no ato golpista foi o suboficial da reserva da Marinha Marco Antonio Braga Caldas, que mora em Balneário Piçarras, no litoral catarinense.
*Ele deixou o serviço ativo em novembro de 2021, segundo dados do Portal da Transparência da União;
*No entanto, suas redes sociais mostram que ele participa ativamente da militância bolsonarista ao menos desde 2018, quando ainda estava na ativa;
*Militares da ativa são proibidos de se manifestar politicamente sem que haja autorização expressa de seus comandantes;
*Caldas também fez vídeos nas redes sociais no acampamento golpista em frente ao QG do Exército em 8 de janeiro;
Ele participou da marcha do acampamento até a Praça dos Três Poderes e, em vídeo, destacou a disposição de depor o governo eleito e estimular um golpe militar — chamado por ele de intervenção federal, replicando o termo usado por bolsonaristas em protestos golpistas em novembro.
Caldas enumera os pleitos que eram defendidos pelos golpistas. “Dizer definitivamente não ao comunismo. Não à chapa Lula-Alckmin. A nulidade desta chapa. A intervenção federal." (Marco Antonio Braga Caldas, suboficial da reserva da Marinha preso em Brasília).
Procurada, a Marinha afirmou que a violação dos deveres e obrigações previstos no Estatuto dos Militares pode constituir "crime, contravenção ou transgressão disciplinar, conforme dispuser a legislação ou regulamentação específicas" e que o não cumprimento desses deveres pode acarretar "responsabilidade funcional, pecuniária, disciplinar ou penal".
"Nesse sentido, as providências são tomadas de acordo com o caso concreto, após conclusão de eventual processo administrativo disciplinar, com o exercício da ampla defesa e do contraditório, para, se for o caso, aplicação de sanções pertinentes", conclui a nota.
ENVOLVIMENTO DE OUTROS MILITARES
O UOL identificou outros três nomes ligados às Forças Armadas que constam na lista de presos por envolvimento no ato golpista.
*O segundo-sargento Noêmio Laerte Hochscheidt e o soldado Robson Victor de Souza, ambos militares da reserva do Exército; 
*Arthur de Lima Timóteo serviu como cabo da FAB (Força Aérea Brasileira) até julho de 2022. 
Segundo a FAB, ele foi dispensado após o fim de seu tempo de serviço militar obrigatório e atualmente não mantém vínculo com a força;
*Além dos presos, o UOL identificou a participação de Marcelo Soares Corrêa, cabo da reserva do Exército, no ato golpista. 
Ele foi recebido em agendas oficiais pelo ex-vice-presidente Hamilton Mourão (Republicanos-RS) e tomou café no Palácio da Alvorada com Bolsonaro;
(Uol)

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